sexta-feira, 8 de abril de 2011

Meu mestre Tasso da Silveira

Não gosto de falar de tristeza. Quando sofro, só me dou uma semana de sofrimento. Não curto ficar triste. Quantas vidas jovens e esperançosas ceifadas! E o nome da escola? O nome de um poeta tão sensível ligado a uma ação inominável!
Tasso da Silveira foi meu professor de Literatura Comparada na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Distrito Federal, atual UERJ, nos anos 1958/59. Poeta sensível, professor cativante (quando digo professor, me refiro ao tipo de professor universitário da minha época - eram mais palestras, e que palestras!). Suas aulas estavam sempre lotadas, todos bebendo as palavras do mestre.
Sua primeira aula nunca me saiu da lembrança. Ele começou, dizendo que o comportamento humano revela sempre uma necessidade básica( o que vou escrever, escrevo de memória - lá se vão mais de 50 anos). As necessidades básicas do homem são cinco: a do alimento, a do abrigo, a do amor, a da descarga (não me lembro se era essa palavra) do tumulto interior e (desta me lembro bem das palavras) da"contemplação e meditação do mistério que nos envolve". O primeiro impulso do homem é o de alimentar-se; depois de alimentado, ele busca abrigo; alimentado e abrigado, ele tem necessidade de companhia, daí surgindo o amor, a amizade, o companheirismo; a descarga (acho que foi "expansão" o termo usado) do tumulto interior gera a dança, a música e a poesia. Satisfeitos estes impulsos, o homem volta-se para os mistérios do universo, que dão origem à religião, à ciência e à filosofia.
Terá sido a ausência da terceira necessidade básica, a falta de amor, a razão da tragédia de ontem? É só ler os jornais de hoje ... não vou falar sobre isso.
O professor Tasso era paranaense, nasceu em 1895 e faleceu aqui no Rio, em 1968. Era considerado um dos representantes da ala espiritualista do Modernismo, ao lado de Cecília Meireles e Tristão de Ataíde. Pertenceu ao grupo da Revista Festa, da qual foi um dos fundadores. Seu primeiro livro de poesia se chama Fio d'água, de 1918. Somente a partir do terceiro livro — Alegorias do Homem Novo—, em 1926  é que adere ao verso livre. Para saber mais: Tasso da Silveira e Silveira Neto (seu pai).

         Efeito de luz (de As Imagens acesas, 1928)

         Sob o silêncio que flutua,
         no crepúsculo
         a angra é um espelho de cristal.
         De súbito, porém, rompendo a superfície polida,
         como um brusco
         reflexo,
         o peixe prateado e liso
         pula no ar
         em esplêndido, caracoleia no crepúsculo
         e retomba no seio da água adormecida,
         que, sonhando, o supõe numa chispa de luar...

 (por Cecilia, em estado de tristeza; vai passar, vai passar...)


6 comentários:

Aline Marques disse...

Bom dia !!!

Nossa, como deve ser agradável sua companhia, deve ser uma mulher cheia de conteúdo e bos histórias.
Me encantei com este post e como descreveu seu professor, alguém tão notório, a ponto de ter uma escola com seu nome, como forma de homenagem, muito legal.

Beijinho, mil felicidades pra ti e um ótimo final de semana.

Aline Marques

Mya ideia disse...

Olá amigas, eu concordo plenamente, se o ser humano se amasse mais certamente mantinha mais equilíbrio mental e estas desgraças não se estariam a ver por todo lado, temos que nos manter fortes, os tempos que viram ainda serão de provações maiores...
fiquem com Deus...
beijinhos

A Casca da Cigarra disse...

Gosto da música do Frejat (que depois soube ser baseada em poema de Victor Hugo) que diz: "Quando ficar triste, que seja por um dia e não o ano inteiro...desejo que você tenha a quem amar e quando estiver bem cansado ainda exista amor pra recomeçar". beijo

Ana Matusita disse...

É Cecília, nessa hora não tem outro jeito senão permitir que a tristeza se instale.
Uma pena que nem todo mundo possa ter referências como a do seu Prof. Tasso. Um adulto assim na vida da gente pode suprir um bom tanto da falta de amor, né?
bj,
Ana

Gislene disse...

Olas!

Que linda postagem.
Alias, seu blog tem conteudo!

Deixo o convite para vir me visitar.
E desde ja, te sigo com alegria.

Um abraco,

Gislene.

(desculpe, meu teclado nao mais acentua as palavras)

Josefina disse...

Me gustan mucho tus trabajos, te felicito
saludos
Josefina
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