quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Elucubrando: a romã e seu simbolismo

Estou escrevendo na noite do dia 15 de janeiro; mas, como o dia judaico começa quando o sol se põe, já é dia 16, dia em que, em 2014, se celebra uma das festas mais bonitas do Judaísmo. É o Ano Novo das Árvores, a festa de Tu Bishvat. Sempre curiosa, quis saber o que significa Tu Bishvat. "Tu" é a sigla formada, em hebraico, pelas letras "Tet" (corresponde ao número 9) e "Vav" (corresponde ao número 6). Toda letra hebraica tem um valor numérico; a combinação dessas duas letras totaliza o número 15. "Shevat" é o nome do mês que, pelo calendário judaico, ocorre no fim do inverno (Israel está no hemisfério norte). Então, "Tu B'Shevat" refere-se ao 15º dia do mês de Shevat. Este dia tem um significado especial, pois o ser humano é comparado à árvore: assim como a árvore está em constante crescimento, nós devemos procurar crescer e produzir frutos, tanto no sentido material, quanto no sentido espiritual. É costume comer das sete espécies destacadas na Torá - duas de grãos e cinco de frutas -: trigo, cevada, uva, figo, romã, azeitona e tâmara. Todas têm sua simbologia, que pode ser lida aqui.

As sete espécies (truthpraiseandhelp.wordpress.com)
Gosto muito dessa comparação da vida humana com a vida das árvores, dessa noção de crescimento, não só físico, mas também espiritual do ser humano. Em Israel, a festa é comemorada nas escolas, com o plantio de árvores pelos alunos.
Das espécies mencionadas, a que mais me intriga é a romã. Por quê? Ela está presente nas três culturas mediterrâneas - a cristã, a judaica e a árabe. Nas três culturas é símbolo de amor, fertilidade e prosperidade. No Islamismo, a romãzeira é mencionada três vezes no Alcorão: duas vezes como exemplo das boas coisas feitas por Deus e outra como um dos frutos que se encontram no Paraíso. Maomé disse que "quem comer uma romã inteira tem seu coração iluminado por Deus e se afasta dos enganos do demônio e da tristeza por 40 dias". No Cristianismo, significa vida eterna e fertilidade. A romã aparece em obras de arte, principalmente nas pinturas de Maria e Jesus menino. Botticelli (1445-1510) pintou um quadro belíssimo "La Madonna della Melagrana". San Juan de la Cruz (1542-1591), um dos grandes poetas espanhóis, no "Cântico Espiritual" reconhece na romã as perfeições divinas, com seus numerosos efeitos, e os seus grãos como expressão da eternidade e da doçura divina. No Judaísmo, a romã é símbolo da integridade de caráter, porque suas 613 sementes correspondem aos 613 mandamentos da Torá, as mitzvot. Qualquer ato de bondade humana contitui uma mitzvá (singular de mitzvot). No Ano novo Judaico (Rosh Hashaná) é tradição comer romã, para que os merecimentos possam crescer como suas sementes.
Madonna della Melagrana - 1487 - Galleria degli Uffizi, Florença
Detalhe (Menino Jesus com a romã)


Amo muito tudo isso! Me encanta elucubrar!
(por Cecilia)

3 comentários:

Nelson Menda disse...

Oi, Cecilia. Parabéns pela bonita explicação. Até hoje fico intrigado com as apregoadas 613 sementes da romã. Alguém, que você conheça, já se deu ao trabalho de contá-las? Outro aspecto interessante a respeito dessa fruta é a crença de que, se forem trincados(e não engolidos)três grãos de romã no Dia de Reis ao mesmo tempo em que pronuncia uma determinada oração que menciona os nomes dos Reis Magos, sem que os pés toquem no chão, essa pessoa vai ter sorte e fortuna nos doze meses seguintes. Para a simpatia funcionar esses três grãos devem embrulhados, um a um, em cédulas de dinheiro (preferencialmente forte, como o dólar) e guardados na carteira até o ano seguinte. Nelson

Cecilia disse...

Olá, Nelson! Não conheço ninguém que haja contado as sementes!!! Em vários sites se fala sobre as 613 sementes, não importa o tamanho da romã. Acho tão poético comparação com o número das mitzvot! Vamos acreditar? Sobre a simpatia, conheço a de mastigar as sementes (7, se não me engano)na passagem do ano e guardá-las embrulhadas na carteira (não necessariamente em dinheiro). Abraço.

Senhora Baruch disse...

Oi! Admiro teus textos! Aprender, relembrar e quem sabe fazer uma leitura interna de si é sempre bom. Abraço :-)