sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Pão, companheiro, saber dividir ...

Nossas duas companheiras blogueiras, Rosana Sperotto e Laély, comentaram sobre pães estes últimos dias. A Rosana, no dia 23 escreveu Unidos pelo pão; a Laély, complementando a postagem da Rosana, escreveu ontem Compãonheiros. O que aconteceu é que fiz um comentário na postagem da Rosana, sobre o significado etimológico da palavra "companheiro": aquele que divide o pão com o outro. A Rosana fez um adendo na sua postagem, e a Laély fez uma referência ao meu comentário.

Há alguns anos, quando colaborava com uma revista alternativa espanhola chamada Gente, escrevi na coluna "El palabrario" algumas considerações sobre a palavra companheiro:

Companheiro e pão
 Companheiro, companheira são termos usuais que sempre traduzem a ideia de união, solidariedade, tanto nos momentos de alegria, quanto nos de tristeza ou infortúnio.
 Embora não seja muito aparente, tais palavras são derivadas de pão.É preciso recorrer ao latim vulgar para chegar a um provável compania, ou seja, cum (com) e panis (pão), que chegou ao português como "companha", forma antiga de "companhia".
 Uma companhia é um conjunto de pessoas que se unem nos negócios, na amizade, nas armas, no teatro ou em qualquer atividade humana. Num belo sentido figurado, o companheiro é  aquele que divide o pão com o outro. 
 O  que significa "dividir o pão" nesse contexto?
 Em todas as culturas, o pão simboliza tanto o alimento material quanto o espiritual. Simboliza também a paz e a boa vontade. Em espanhol, é comum referir-se a uma pessoa que só quer fazer o bem como "es tan buena como el pan". Um provérbio diz: "Bem estou com meu amigo que come pão comigo". Outro provérbio nos ensina que "muito pão ou pouco pão, as colheitas o dirão".
 Dividir o pão, ser companheiro, ser companheira significa unir-se ao outro para que, num esforço comum, sejam compartilhadas alegrias e tristezas, sentimentos inerentes ao ser humano, não importa onde, nem quando. Significa dar o melhor de si mesmo, quer material ou espiritualmente, para suporte e crescimento do próprio ser interior ou o do próximo.

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Precisei adaptar o provérbio "No da Dios pan sino en el ero sembrado" (numa tradução livre: Deus só dá pão em terreno semeado), porque não encontrei equivalente no português. O texto original é este:

Compañero viene de pan

Compañero, compañera son términos muy comunes que siempre traducen la idea de unión, solidaridad, sea en los momentos de alegría o en los de tristeza o infortunio.
Aunque no lo parezca a simple vista, son palabras derivadas de pan. Hay que recurrir al latín vulgar para llegar a un supuesto "compania", o sea, cum (con) y panis (pan), que nos llegó como "compaña," forma antigua de "compañía".
Una compañia es un conjunto de personas que se unen en los negocios, en la amistad, en las armas, en el teatro o en cualquier actividad humana. En un bello sentido figurado es aquel que comparte el pan con el otro. ¿ Qué puede significar compartir el pan en ese contexto?
En todas las culturas, el pan simboliza tanto el alimento material como el espiritual. Simboliza también la paz y la buena voluntad. De una persona que sólo quiere hacer el bien se dice que "es más buena que el pan". "Bien estoy con amigo, que come pan conmigo", dice el refrán. Otro refrán nos enseña que "no da Dios pan sino en el ero sembrado".
Compartir el pan, ser compañero, ser compañera significa unirse al otro para que en un esfuerzo común se compartan alegrías y tristezas, sentimientos inherentes al ser humano, no importa dónde ni cuándo. Significa dar lo mejor de sí mismo, sea de forma material o espiritual, para sostenimiento y crecimiento del ser interior propio y del otro.
(Gente - Guía de cursos, marzo-abril 2004)
(por Cecilia)

10 comentários:

Livia disse...

Cecília, adorei este post! Adorei saber sobre a origem da palavra, não há maneira melhor de curtir uma companhia se não dividindo algo!
Beijos

Rosana Sperotto disse...

Cecília, estou derretida com essa situação, com a prática do que se fala. Três blogs irmanados no companheirismo... quanta beleza! Um abraço muito grande, amiga querida!

Laély disse...

Cecília, quando a reforma ortográfica ainda estava em discussão, gostei muito de um artigo que o Reinaldo Azevedo escreveu para a Veja(http://veja.abril.com.br/120907/p_098.shtml) criticando a ideia:
"Precisamos de restauração, não de mais mudanças"..."o aluno perde ao ser privado da etimologia, um conhecimento fascinante."
E é conhecendo a raiz da palavra que entendemos melhor a nossa língua.
Obrigada pela aula, professora!
Lendo sua explanação, fiquei aqui imaginando: aquele com quem se pode dividir o próprio pão, come conosco, do pão fresco e saboroso até o duro e dormido. Ou, passa fome junto, quando não temos o que repartir. Companheiro é assim!
Beijo, companheira!

Andanhos disse...

Cecilia, eu não conhecia a etimologia de "companheiro" e adorei este post! Fez-me lembrar da vez em que montamos no departamento de Literatura um presépio de pão, pois Belém significa "casa do pão" e na Espanha o presépio é chamado de "Belén".
Essas questões linguísticas são encantadoras!
Beijos.

Jaqueline Köhn disse...

Lindo seu post, companheira...rsrs

Um grande beijo!

paula disse...

Olá.
Gostei imenso deste post.
Mas gostaria de lhe contar que em Portugal um casal que viva junto sem ser casado, muitas vezes referem-se um ao outro por companheiros, isto é, a minha companheira, ou o meu companheiro.
Bem como os campistas, usam entre si o termo companheiro.
Os mineiros, eu sou de uma terra de minas usam tabém essa forma de tratamento.
Vou tentar enviar-lhe uma canção cantada por um coral da minha terra com esse tema.

Nívia disse...

Bem, só fui conhecer o blog hoje, Helena! Lin-do!
Parabéns a vc e sua mãe!
Vc tem necessaires de pronta entrega na sua casa? Quem sabe é uma desculpa pra gente tomar um café?! ;)
bjos!

Cecilia e Helena disse...

Oi, Nivia!!! É vc, né? Ou é a Bi? hehehe Menina, fico louca quando encontro alguém como eu, apaixonada por costura. Vamos marcar algo sim! Hoje chegou uma remessa nova. Vou postar as fotos amanhã, na lojinha www.quiltsaoeternos.blogspot.com
E quem sabe a gente não marca uns costuretes tbm?
Beijão
H.

Anônimo disse...

olá, Cecília e Helena, adorei o blog de vocês e esse texto me encantou. Obrigada por me ensinar algo.
Bjs

Martin Fierro disse...

Eu conhecia um "pedacinho" dessa origem. Nada comparável à essa beleza calma e profunda com que nos brindas. Parabéns! Sinto uma "inveja" branca pela facilidade com que nos apresenta essa preciosidade.
Continue assim!