Quietinha, sem poder fazer minhas costurinhas do jeito que eu gosto, por causa de uma cirurgia de catarata, elucubro sobre o Tempo. Qual foi o estopim causador destas elucubrações? Foi uma reflexão feita pela personagem da Maggie Smith, em Downton Abbey, na festa de Natal da 2ª temporada, em que os amigos e vizinhos são convidados. Ela conversa com o filho e faz considerações sobre as pessoas, os novos tempos e pergunta, quase que para si mesma: "Mais où sont les neiges d'antan?". Volto às aulas magistrais de francês da Faculdade, com a Marcella Mortara. Le Moyen Âge, com François Villon e a sua Ballade des dames du temps jadis, e o seu refrão "Mais où sont les neiges d'antan?", referindo-se ao tempo que passa e que não volta mais - Onde estão as neves de outrora?
François Villon não foi flor que se cheirasse: ladrão, boêmio e ébrio, assim é descrito por seus estudiosos. Nasceu em Paris, em 1431 e, simplesmente, sumiu em 1463 - para onde, ninguém sabe, ninguém viu. Para saber mais sobre os 32 anos de vida conturbada: aqui.
A tradução que reproduzo aqui foi feita pelo escritor Modesto de Abreu, e copiada do blog Acontecimentos, do poeta e ensaísta Antonio Cícero:
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Selo - 1946 |
Balada das damas dos tempos idos
Dizei-me em que terra ou país
Está Flora, a bela romana;
Onde Arquipíada ou Taís,
que foi sua prima germana;
Eco, a imitar na água que mana
de rio ou lago, a voz que a aflora,
E de beleza sobre-humana?
Mas onde estais, neves de outrora?
E Heloísa, a mui sábia e infeliz
Pela qual foi enclausurado
Pedro Abelardo em São Denis,
por seu amor sacrificado?
Onde, igualmente, a soberana
Que a Buridan mandou pôr fora
Num saco ao Sena arremessado?
Mas onde estais, neves de outrora?
Branca, a rainha, mãe de Luís
Que com voz divina cantava;
Berta Pé-Grande, Alix, Beatriz
E a que no Maine dominava;
E a boa lorena Joana,
Queimada em Ruão? Nossa Senhora!
Onde estão, Virgem soberana?
Mas onde estais, neves de outrora?
Príncipe, vede, o caso é urgente:
Onde estão elas, vede-o agora;
Que este refrão guardeis em mente:
Onde estão as neves de outrora?
Nos itens de 38 a 47 deste link, há explicações sobre as damas às quais Villon se refere na Balada.
Enquanto minha visão de perto vai se adaptando, vou elucubrando ... Já escutei mil vezes a Nana cantando Resposta ao tempo, canção elucubrativa por excelência (E o tempo se rói com inveja de mim...). Ontem pensei muito nos versos do grande Antonio Machado: Todo pasa y todo queda, pero lo nuestro es pasar, pasar haciendo caminos, caminos sobre la mar ...
(por Cecilia, pensando também no Caetano:
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...)
3 comentários:
Então vc está vendo Downton Abbey também, hein? Magistral, não? Ótimas elucubrações, de vez em quando também me perco nelas... Sofro de nostalgia aguda, mas algo sempre me impulsiona para o futuro, é como um duelo interior. Quando o barulho tá muito grande por dentro, silencio por fora e bordo. Ou costuro. Ou faço bolo. Um beijo e uma linda semana. Melhoras!
Me prendi na leitura deste post e percebi que a leitura por vezes é minha fuga, ou meu encontro! Por hora lazer, noutras obrigação. Leitura obrigação? Não. É prazer, é aprender e apreender a informação, ter pra si o conhecimento do desconhecido, ou apenas o reencontro com o já sabido!
Sim, eu viajo lendo, as vezes vou longe, as vezes nem saio do lugar.
Boa recuperação Cecilia. Um beijo, Ana.
Minha querida !
Obrigado pelo gentil comentário.
Vejo que você também esta se recuperando de uma cirurgia de Catarata.
Minha cirurgia foi quinta-feira passada.
A claridade ainda esta me incomodando muito...coloquei lente multifocal e não estou vendo bem de perto. (Isto me preocupa!!!)
Quanto ao colírio ? Realmente é incomodo o número de vezes, que temos de fazer uso do mesmo, ao longo do dia.
Fazer o que !!! Um mal mais que necessário.
Cuide-se direitinho... viu amiga !
Tenho certeza que em breve estaremos 100%.
Forte abraço!
Sonia Faria
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